Cultivar_32

Editorial 9 como normas de origem consuetudinária, limitando a atuação legislativa e garantindo a proteção das cooperativas. O autor conclui afirmando que este é “um domínio privilegiado para (… ) a realização da democracia económica e social.” O artigo de Phillippe Duclaud e Jean-Baptiste Fauré aborda a evolução do cooperativismo agrícola em França, desde as suas origens no final do século XIX, com a formalização das primeiras cooperativas modernas, até à atualidade. Estas organizações desempenharam um papel decisivo na reconstrução do pós-guerra, na modernização da agricultura e na promoção da soberania alimentar. Regidas pelos princípios do cooperativismo, conseguiram adaptar-se às mudanças económicas e sociais, consolidando-se e expandindo-se internacionalmente. A criação, em 2006, do Conselho Superior da Cooperação Agrícola, e posteriormente da figura do Mediador da Cooperação Agrícola, permitiu regular e resolver alguns dos problemas que se tinham vindo a colocar devido a essa expansão e concentração, bem como ajudar a refletir sobre os desafios que se colocam a todo o setor agrícola: “os princípios que regem as cooperativas, embora antigos, parecem particularmente bem-adaptados para orientar as transformações necessárias”. Jos Bijman analisa as razões do sucesso histórico das cooperativas agrícolas nos Países Baixos e os desafios que enfrentam atualmente. Reconhecidas pela sua capacidade de adaptação às mudanças económicas, sociais e tecnológicas, as cooperativas desempenham um papel crucial no setor agrícola neerlandês, mantendo uma presença no mercado estável e significativa. O autor destaca como fatores de sucesso, além de características ligadas ao contexto institucional e histórico, como a necessidade de auto-organização relacionada com constrangimentos territoriais ou o elevado nível de confiança mútua, a eficácia dos mecanismos encontrados para a governação interna ou a homogeneidade entre membros. O último ponto do artigo aborda não só os desafios atuais, sobretudo relacionados com a sustentabilidade ambiental, mas também as oportunidades associadas à procura crescente de produtos regionais e de elevada qualidade, produzidos de forma justa e sustentável. “O modelo cooperativo tem um passado de sucesso e a sua versatilidade, resiliência e legitimidade fazem prever que terá um futuro igualmente brilhante.” Idalino Leão faz uma análise do cenário atual do setor agrícola português, marcado por desafios globais, como a volatilidade dos mercados, e locais, como a fragmentação da produção. Destaca a importância estratégica das cooperativas agrícolas para reforçar a competitividade e a sustentabilidade do setor, promovendo a coesão territorial e reduzindo desigualdades na cadeia agroalimentar. O autor salienta a necessidade de modernizar e redimensionar estas organizações, com apoio de políticas públicas e instrumentos financeiros específicos. Releva o papel da CONFAGRI no apoio ao cooperativismo, promovendo inovação, capacitação e práticas sustentáveis para garantir o equilíbrio entre a soberania alimentar e as exigências do mercado global. A concluir, afirma a necessidade de “uma abordagem equilibrada que preserve os princípios básicos da cooperação, como a solidariedade e a democracia interna, ao mesmo tempo que adota práticas que reforcem a concorrência.” A secção Observatório abre com um artigo de Rui Trindade e Ana Rita Moura, que coligiram informaSilos verticais, Moura, 1954 Fotografia de Artur Pastor Acervo do GPP

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