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cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 4 JUNHO 2016 42 Europeia teria em março reautorizado o glifosato até 2031. No momento da elaboração do presente artigo a controvérsia está em curso e envolve tanto cientistas como políticos. As contradições dos pareceres oficiais A posição da Comissão assenta num parecer da EFSA - Autoridade Europeia de Segurança Alimen- tar onde é negada a relação entre glifosato e can- cro identificada pela OMS. Este parecer de facto não foi escrito pela EFSA mas sim pela Alemanha, que é o Estado Membro relator na matéria. O documento em si é proveniente do Ins- tituto Federal de Avaliação de Risco (BfR) e propõe até que a dose diária admissí- vel de glifosato seja alar- gada de 0.3 para 0.5 mg/ kg/dia. Quem é o BfR, e porque é que terá posição tão inesperadamente anta- gónica face à OMS? Não se espera que a ciência per- mita demonstrar tudo e o seu oposto. Uma visita à página da Comissão de Produtos Fitos- sanitários e Respetivos Resíduos do BfR 15 permite entrever uma primeira explicação: três dos seus 13 membros são funcionários da Bayer ou da BASF. Estas duas empresas, junto com uma vintena de outras, compõem a Glyphosate Task Force 16 – a estrutura organizada pela indústria para garantir a reautorização do glifosato na União Europeia. Se tal situação não personificasse já um flagrante conflito 15 ( www.bfr.bund.de/de/mitglieder_der_bfr_kommis- sion_fuer_pflanzenschutzmittel_und_ihre_ruecks- taende-189320.html) 16 ( www.glyphosate.eu/legal-notice) de interesses acrescente-se que o BfR não publi- cou o seu parecer, impedindo assim o acesso de especialistas independentes, mas deu-o a conhe- cer à indústria em vários momentos. 17 O diferendo entre o BfR e a OMS centra-se na poten- cial carcinogenicidade do glifosato. Outros aspetos, como a desregulação hormonal, não fazem parte do mandato da OMS e não foram objeto de avaliação definitiva. Prova disso é a determinação da Comis- são Europeia para que a indústria apresente provas de que esse efeito não é problema...até 1 de agosto de 2016, meses depois da data da prevista autoriza- ção. Há qualquer coisa de notável num processo de decisão que permite pri- meiro e verifica depois. E antes que se possa pensar que se tratou de um lapso atente-se que o mesmo se passa com a ECHA - Euro- pean Chemicals Agency cuja avaliação do glifosato é esperada para 2017. No que concerne ao can- cro, um artigo publicado em março de 2016 na revista científica Journal of Epidemiology and Community Health e assinado por 94 investigadores esclarece o possível na dicotomia entre as posições em confronto. Nele se desvenda, com contornos de mistério policial, como o BfR desconsiderou vários estudos epidemiológicos de longo prazo (onde se evidenciava o risco acrescido de linfoma não Hodgkin em trabalhadores agríco- las), valorizando estudos mais curtos (quando o cancro ainda não é aparente). 17 ( www.testbiotech.org/en/node/1326) A posição da Comissão assenta num parecer da EFSA - Autoridade Europeia de Segurança Alimentar onde é negada a relação entre glifosato e cancro identificada pela OMS. Este parecer de facto não foi escrito pela EFSA mas sim pela Alemanha, que é o Estado Membro relator na matéria. O documento em si é proveniente do Instituto Federal de Avaliação de Risco (BfR) e propõe até que a dose diária admissível de glifosato seja alargada de 0.3 para 0.5 mg/kg/ dia. Quem é o BfR, e porque é que terá posição tão inesperadamente antagónica face à OMS? Não se espera que a ciência permita demonstrar tudo e o seu oposto.
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