Cultivar_5_Economia da agua

CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 5 SETEMBRO 2016 34 carregadas de sais. Se a rotação cultural de rega- dio incluir culturas de outono – inverno com alguma tolerância à salinidade e ao excesso de água, será menor a quantidade de água de rega a contabilizar como “dotação de lavagem”. Uma situação especialmente gravosa decorrente da salinidade verifica-se quando no complexo de troca do solo o sódio, Na + , domina quantitativamente os outros catiões, Ca ++ e Mg ++ . Nessa condição, o sódio tende a substituir o cálcio e o magnésio nas posições de troca e nos complexos argilo-húmicos, quebrando as ligações estáveis que constituíam a agregação e a estrutura do solo, que perde porosidade, infiltrabi- lidade, resistência à erosão. Este efeito desagregante do sódio pode ser devastador, porque o solo sem estrutura, sem drenagem, é extrema- mente difícil de recuperar. O pH do solo nestas condi- ções é muito elevado (acima de 8,5), o solo diz-se alcalino, o processo alcalização e o problema alcalinidade, muito mais grave que a simples salinidade. Os problemas de excesso de sais no solo (salinidade e alcalinidade) estão presentes em muitos regadios do mundo, conhecendo-se situações de gravidade extrema, onde nem o regadio nem outras formas de agricultura já são viáveis. No caso de Alqueva, não se pode falar de problemas semelhantes, mas há situações pontuais que merecem cuidado e aten- ção, para que se previnam atempadamente os pro- blemas e se garanta a sustentabilidade do rega- dio. Entre os solos regados nos novos perímetros, predominam duas famílias – Vertissolos e Luvisso- los – que merecem atenção e referência especiais. Ambas as famílias têm solos com drenagem interna deficiente ou má, o que os coloca de imediato em situação de alguma vulnerabilidade perante as exi- gências de circulação da água postas pelo manejo da salinidade e da alcalinidade. Os Vertissolos são solos argilosos, os conhecidos Barros, alguns já com depósitos salinos a pequena profundidade do perfil, desde o processo pedoge- nético. A tecnologia agrícola exigirá que estes sais desçam no perfil, para profundidade onde não afe- tem o normal desenvolvimento e atividade das raí- zes. O objetivo não é fácil, porque a drenagem interna é má, logo que a quanti- dade de água da chuva ou da rega tenha provocado a expansão das argilas e com ela o fechamento das fen- das características do solo argiloso. Se o manejo da rega não for extremamente cuidadoso e as dotações forem um pouco excessi- vas, tenderá a formar-se uma toalha freática sus- pensa na parte superior do perfil e os sais subirão, ao contrário do objetivo. Compreende-se que o pro- blema será ainda mais grave se houver sódio entre os sais deste perfil, ou na água com que são rega- dos, o que já acontece em alguns casos. A água de Alqueva não tem sido referida como apresentando excesso de sódio e enquanto assim for ela poderá ser usada, se a chuva não for suficiente, para lixi- viar os sais em excesso no perfil, incluindo o pró- prio sódio, mas com grande lentidão do processo, dada a deficiente drenagem interna destes solos. Contudo, o problema poderá agravar-se no futuro, se a qualidade química da água piorar, o que se deve recear e encarar, porque por um lado não se tem controlo sobre as cargas químicas que pos- sam afluir a Alqueva vindas de montante, por outro lado há no sistema de Alqueva situações em que as águas de drenagem são reintroduzidas no próprio sistema de rega. Os problemas de excesso de sais no solo (salinidade e alcalinidade) estão presentes em muitos regadios do mundo, conhecendo-se situações de gravidade extrema, onde nem o regadio nem outras formas de agricultura já são viáveis. No caso de Alqueva, não se pode falar de problemas semelhantes, mas há situações pontuais que merecem cuidado e atenção, para que se previnam atempadamente os problemas e se garanta a sustentabilidade do regadio.

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