Cultivar_7_O risco na atividade economica

Vinhos verdes: duas décadas de seguro coletivo de colheitas 71 res de baixa sinistralidade em detrimento de quem tem sinistros sucessivos. Por absurdo, numa apólice coletiva, pode haver um produtor com uma explo- ração mal instalada, que tem geada anualmente, não sendo por isso prejudicado, pois o seu risco dilui-se na apólice. Importaria dar liberdade para que cada apólice encontrasse soluções: por exem- plo, não sendo possível diferenciar prémios, pode- riam as regularizações ser calculadas em função de uma cláusula bonus/malus que penalizasse o sinis- tro sucessivo. É certo que a competitividade da apólice resulta da diluição do risco. Porém, no que à política pública para o desenvolvimento da Região diz respeito, não faz sentido permitir que, á custa de todos, algumas explorações manifestamente mal instaladas pos- sam encontrar na apólice uma fonte de rendimento e não apenas de externalização de risco. Participações e sinistros reconhecidos: conflitualidade? Como é natural na atividade seguradora, há um maior número de participações de sinistros do que sinistros reconhecidos após peritagem. A diferença é, porém, inferior ao esperado. Em duas décadas, quase 90% das participações deram origem a algum tipo de reconhecimento de sinistro pelas equipas de peritos. O que não quer dizer, obviamente, que se tenha reconhecido um valor a indemnizar igual- mente próximo: aqui, sim, há discordâncias entre o sinistrado e o perito. Não dispomos, porém, de dados que nos permitam fazer esta comparação exata. Conclusão surpreendente é, todavia,que o mecanismo de regularização de sinistro é bem menos conflituoso do que seria de antecipar, sendo raros os casos de discordância entre o sinistrado e o perito que dê origem a comunicações superiores. Externalidades Duas décadas de dados informatizados: em núme- ros redondos são duas décadas de produção, vinha a vinha de vinte mil produtores, agregadas aos dados da apólice, nomeadamente, a sinistra- lidade parcela a parcela. É um infindo manancial que merece ser estudado com detalhe. Está lá um enorme contributo para a zonagem, as vinhas e as freguesias com mais geada, os incêndios. Está lá, de forma claríssima, a evolução do clima: nos anos 90, havia geadas devastadoras e sucessivas – uma certeza anual. Em 2000, tivemos 3 520 sinistros de geada e, gradualmente, esta foi desaparecendo. O Minho, que conheceu geadas durante séculos, tem cada vez menos, substituídas agora pelo granizo (340 casos em 2014), um evento muito devastador, mas localizado. E apareceu o escaldão, fenómeno que, até aos anos 80, era praticamente desconhe- cido. Os discursos políticos Não há coisa que mais dificulte a credibilização da opção estratégica de fazer um seguro coletivo do que o discurso de um político que, em caso de sinis- tro, garante subsídios ao vizinho do lado que não fez seguro. É interessante, porque as seguradoras têm uma imagem de credibilidade. Ou seja, se a indemniza- ção se atrasar algumas semanas, raramente há crí- ticas e não há, de forma alguma, perda de credi- bilidade: o produtor sabe que receberá mais tarde ou mais cedo. Porém, o que coloca a apólice em causa e gera imediatamente uma avalanche de reclamações é algum discurso mais generoso, sempre em “prime time”, que garante apoio do Estado a quem não fez apólice. Há que semear e alimentar a ideia de que o risco do clima é algo que o agricultor pode e deve exter- nalizar. E, verdadeiramente, seja com o SIPAC, seja com as novas modalidades, a celebração de apóli- ces está cada vez mais facilitada.

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