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A importância da agricultura na conservação da natureza 67 necessário, o afastamento entre as políticas de con- servação da natureza e da biodiversidade (“entrin- cheiradas” em políticas ambientais das quais ape- nas são parte ou resultado) e as políticas agrícolas e florestais de gestão dos recursos cinegéticos e de desenvolvimento rural, das quais dependem em grande parte para terem sucesso. Todos sabemos que a agricultura, aqui entendida num contexto mais vasto das suas atividades pro- dutivas e de gestão de sistemas socioeconómicos rurais, é absolutamente crítica para boas políticas de conservação da natureza e da biodiversidade. Assim sendo, serão também justas e avisadas polí- ticas de promoção da sustentabilidade da agricul- tura, combatendo muito do preconceito que existe de incompatibilidade. Casos há também, em que o preconceito serve de álibi para a evidente não sustentabilidade de sistemas produtivos devasta- dores de recursos, sejam estes solos, água ou bio- diversidade. De facto, as atividades agrícolas, de forma geral (não nos referimos, naturalmente, aos sistemas produti- vos intensivos com base em regime de forçagem dos ciclos de vida, sejam de animais ou de plan- tas), são dominantes nos territórios rurais. A agricul- tura, se assegura a função importante, em muitos casos já não a primeira, de provir alimentos, é hoje e cada vez mais uma atividade tampão para evitar a aceleração de processos de desertificação humana, com os riscos que amargamente conhecemos, por exemplo, dos incêndios florestais. Os agricultores asseguram assim uma função de manutenção ou preservação de territórios que uma excessiva urba- nização ou uma insensata e desinformada desvalo- rização levou ao abandono ou semiabandono. Ao contrário do que muitas vezes se pensa e outras tantas se diz, a conservação de determinados valo- res naturais necessita de uma intervenção humana de gestão adequada, porquanto se é certo que há situações onde o chamado fenómeno de wilderness é positivo para aumentar o valor de biodiversidade, noutras, pelo contrário, sobretudo quando se trata de habitat s de espécies protegidas com elevado risco de ameaça, as atividades agrícolas, pecuárias ou cinegéticas são essenciais à recuperação da bio- diversidade. A este propósito e como ilustração do que foi dito, lembramos aqui o que acontece com a proteção de diversas espécies de abutres, algumas delas com estatuto da União Internacional para a Conserva- ção da Natureza (IUCN) ao nível mais elevado de espécies criticamente em perigo. O seu quase total desaparecimento, mais significativo no caso, por exemplo, das populações de abutre preto ou de abutre do Egito, teve diretamente a ver com o pro- gressivo abandono da agricultura e, sobretudo, da pecuária. Sendo animais necrófagos, a falta de ali- mento com base em gado morto ou doente aban- donado foi deteriorando as condições para a repro- dução da espécie, o que fez descer drasticamente o número de indivíduos. A situação de alguma forma muda para positivo, ainda que no caso das espécies referidas a níveis inferiores às necessidades para as retirar do esta- tuto de ameaça que têm atualmente, com a recu- peração dos territórios abandonados para, desig- nadamente, a atividade cinegética, possibilitando pela via da morte de caça maior ou menor garan- tir as disponibilidades de alimento necessárias. É claro que muito houve que fazer a nível da interven- ção de outros fatores essenciais à nidificação, mas até estes foram desenvolvidos em ações de estreita cooperação entre conservacionistas e proprietários, produtores de caça e outros agentes. Uma das ações que foi necessário realizar consistiu na criação de campos de alimentação. Esta ação que, no limite, poderemos considerar de não natu- ral, foi a única possibilidade de ultrapassar um dos fatores que contribuiu para a rarefação de alimento para estas espécies (a que se podem acrescentar outras aves de rapina importantes que têm hábi- tos alimentares oportunistas), designadamente a
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