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30 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 25 ABRIL 2022 – Investimento na agricultura Se estas transformações no modelo tecnológico marcaram o setor agrícola em Portugal, hoje o setor está sujeito a uma restruturação que passa nomeadamente pelo aparecimento de explorações vocacionadas para o mercado, com alto potencial produtivo e com sistemas de produção modernos e tecnologicamente diferenciados (Pereira, 2021). Esta restruturação pode implicar uma mudança no perfil de investimentos e de consumos intermédios e na repartição entre ambos. Neste trabalho, procura-se perceber em que medida se registou uma transferên- cia daquilo que foi o investimento em maquinaria para soluções de contratação externa deste tipo de ativo. Alguns autores defendem que esta mudança se deve principalmente à redução de custos que os agricul- tores poderão conseguir. De facto, deter capital fixo implica custos para as explorações, nomeadamente com depreciações, juros e seguros. Por outro lado, a sua utilização implica despesas ao nível de repa- ração e manutenção e combustível. Adicionalmente, esta alteração do modelo de negócio pode significar vantagens em termos de gestão do risco e acesso a novas tecnologias. Por exemplo, Picazo‑Tadeo e Reig-Martínez (2007) encontraram evidência empí- rica que suporta a existência de uma relação positiva entre o outsourcing e a eficiência nas explorações de citrinos espanholas, concluindo ainda que essa contratação externa de trabalho e capital permite às explorações atingir a eficiência, independentemente do seu tamanho. Em França, de acordo com Nguyen et al . (2020), o desen- volvimento da terciarização da agricultura parece estar ligado ao processo téc- nico, mas também à situação económica do setor. Segundo os dados recolhidos pelos autores, as primeiras empresas de outsourcing foram criadas no período entre guerras, com a modernização da agricultura e a chegada das primeiras máquinas de colheita e, durante muito tempo, foram contratadas por estruturas familiares pequenas que não tinham os meios humanos e financeiros para realizar as colheitas por si só. Contudo, o crescimento do mer- cado de terciarização ocorreu apenas na década de 1980, quando o setor agrícola entrou num longo período de incerteza e a Política Agrícola Comum (PAC) da então designada Comunidade Económica Europeia (CEE) começou a introduzir grandes políti- cas para promover a agricultura sustentável. Os picos na criação de empresas de outsourcing refle- tem não só a tendência de queda do número de tra- balhadores da agricultura familiar, mas também as sucessivas reformas da PAC (em 1992, 2000 e 2013): por um lado, como em outros países europeus, os agricultores trabalham cada vez mais sozinhos e precisam de fazer maior uso de mão de obra externa; por outro lado, as muitas políticas ambientais e a multiplicação dos padrões de qualidade exigem que os agricultores adotem novas práticas. Por último, os autores indicam que não apenas as pequenas explo- rações recorrem mais a terceiros, mas o fenómeno se estende agora também às de dimensão média e grande, que têm capacidade para fazer o trabalho por conta própria (Nguyen et al . 2020). Em Wright e Bennett (1993), os autores defendem que a contratação externa na agricultura adquiriu um papel de importância crescente no Reino Unido, passando a representar uma proporção significativa dos custos variáveis totais de alguns tipos de explo- rações, e que a disponibilidade destes serviços pode possibilitar aos agricultores uma redução dos custos com maquinaria e reduzir a necessidade de manter recursos humanos permanentes. Ao mesmo tempo, alguns agricultores diver- sificaram os seus negócios através da provisão deste tipo de serviços para outras explo- rações. Igata et al . (2008) referem que a contratação externa na agricultura é um fenómeno que se pode encontrar por todo o mundo. Os autores indicam que, sendo a despesa em ferramentas agrícolas e maquinaria res- ponsável por uma fatia considerável dos custos de produção, assume-se geralmente que os agricultores podem reduzir estes custos com recurso ao outsour- cing , ou seja, este último pode ser visto como um substituto da posse de maquinaria. No entanto, os autores concluíram que, para o caso neerlandês, era … a contratação externa na agricultura é um fenómeno que se pode encontrar por todo o mundo.

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