CULTIVAR 26 - Agricultura biológica e outros modos de produção sustentável

14 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 26 SETEMBRO 2022 – Agricultura biológica e outros modos de produção sustentável estado ambiental do mundo, mas só mais recen- temente tem havido uma tomada de consciência mais generalizada de que algo vai de facto muito mal nessa frente. Os fenómenos climáticos extremos e suas consequências têm contribuído para isso pelo seu impacto junto da opinião pública, a que se jun- tam fenómenos como a presença massiva de plás- tico nos oceanos ou o declínio de insetos polinizado- res e outros seres vivos. A prevalência, recorrência e magnitude crescente destes fenómenos, como ficou mais uma vez bem patente no verão de 2022 através de seca extrema, vagas de calor e fogos rurais, são em si mesmo um garante de que a atenção pública a estas matérias não diminuirá no curto ou médio prazo. E como tal, a pertinência política da crise global de sustentabilidade não deixará também de crescer. Afinal, não há mesmo alternativa viável para a humanidade que não seja a de melhor cuidar da biosfera de que depende. O Pacto Ecológico surgiu como resposta política a uma perceção crescente da opi- nião pública europeia sobre o agravamento dos problemas ambientais, mormente das alterações climáticas. Com- preensivelmente, a resposta do Pacto Ecológico Europeu cobre com renovado vigor a ação climática, através de metas mais ambiciosas na redução de emissões e na adaptação aos impactos climáticos. Mas a prin- cipal novidade é que cobre com igual prioridade os outros aspetos ambientais. Em particular, a perda de biodiversidade é encarada com o mesmo grau de premência que a crise climática, até por estar intimamente ligada à mesma. De facto, as alterações climáticas e a degradação dos ecossistemas naturais influenciam-se mutuamente e são interdependentes em elevado grau. A diversidade dos seres vivos é de facto um verdadeiro garante de que os ecossistemas naturais e todos os sistemas de suporte de vida da Terra funcionam bem. A sua perda entrava as pos- sibilidades de alcançar um rumo de qualidade de vida e de desenvolvimento sustentável para os seres humanos. Afinal, parece não ser difícil de intuir que não poderemos ser sustentáveis se continuarmos a destruir a natureza e seus serviços! O papel da agricultura para a sustentabilidade Evidentemente que a sustentabilidade ou sua ausência depende de uma multiplicidade de fatores, áreas e setores, bem para além da agricultura. Mas a agricultura tem uma bem conhecida ligação fun- damental com muitas das questões ambientais que subjazem à sustentabilidade, nomeadamente pela ocupação do território que implica, pela utilização relevante de recursos naturais e por poder originar poluição de diversos tipos. No que respeita à biodi- versidade, as alterações do uso do solo (e dos mares) são a primeira causa de perda identificada pela ciên- cia, à frente, e por esta ordem, da sobre-exploração de recursos, das alterações climáticas, da poluição e das espécies exóticas inva- soras. O uso do solo e as fun- ções dos ecossistemas como sumidouros de carbono ou para prevenir impactos de extremos climáticos têm também uma relevância muito grande no quadro das alterações climáticas. É pois compreensível e expectável que uma verdadeira estraté- gia para o desenvolvimento sustentável, como o é o Pacto Ecológico Europeu, vise em particular promover a transição para uma agricultura sustentável. A Estratégia Europeia de Biodiversidade para 2030 foi aprovada em maio de 2020, em plena crise pan- démica, simultaneamente com a Estratégia do Prado ao Prato, dedicada à sustentabilidade do sistema alimentar. Estas estratégias definem uma variedade de metas e objetivos quantificados até 2030, alguns dos quais comuns entre si, nomeadamente os que se relacionam com certas práticas agrícolas e seus efei- tos. Assim, as metas comuns às duas estratégias têm a ver com os pesticidas químicos (reduzir em 50% o seu uso e risco), os fertilizantes (reduzir em 50% as perdas de nutrientes e reduzir o uso de fertilizantes … a agricultura tem uma bem conhecida ligação fundamental com muitas das questões ambientais que subjazem à sustentabilidade, nomeadamente pela ocupação do território que implica, pela utilização relevante de recursos naturais e por poder originar poluição de diversos tipos.

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