CULTIVAR 26 - Agricultura biológica e outros modos de produção sustentável

20 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 26 SETEMBRO 2022 – Agricultura biológica e outros modos de produção sustentável levaria à criação da IFOAM (Federaação Internacio- nal dos Movimentos de Agricultura Biológica), com o objetivo de coordenar as ações dos vários movi- mentos de AB e partilhar os estudos científicos e experimentais realizados por todo o globo no âmbito da AB. Pretendia-se, ainda, abordar a viabilidade de um sistema de certificação que permitisse verificar a utiliza- ção de métodos de produção com baixo recurso a fatores de produção não renováveis, e, deste modo, valorizar a produção, pela diferenciação de preços, e aumentar o rendimento dos agricultores (Reganold e Wachter, 2016). A IFOAM através do seu congresso mundial de AB, que decorre de três em três anos, foi incorpo- rando além dos fóruns científicos e económicos, um fórum dedicado aos agricultores (no qual estes par- tilham as suas experiências com a comunidade da IFOAM) e um fórum dedicado à espiritualidade que se iniciaram, respetivamente, nos congressos mun- diais de AB em 2018 em Nova Deli, Índia e em 2021 em Nantes, França.  2. Desafios para a investigação em agricultura biológica A agricultura biológica, como modo de produção que pro- move práticas sustentáveis e de impacto positivo no ecos- sistema agrícola, tornou-se um paradigma da defesa da sustentabilidade do setor, com diversas boas práticas, resultantes da inovação em AB, a serem adotadas pela agricultura convencional, levando a uma aproximação entre os dois modos de pro- dução. Alguns exemplos são a utilização da luta biológica (e.g. auxiliares das cultu- ras e produtos baseados emmicrorganismos como o Bacillus thunringiensis ), as rotações e consociações de culturas, o uso de matérias fertilizantes naturais, o fecho do ciclo de nutrientes.  Ao mesmo tempo, o crescimento da produção bio- lógica, estimulado pelas novas exigências da socie- dade civil, levou à sua integração no sistema alimen- tar global e àquilo que é costume designar-se por convencionalização. Esta tendência caracteriza-se, entre outros aspetos, pelo aparecimento de grandes explorações biológicas alta- mente mecanizadas, basea- das em trabalho assalariado e orientadas para a monocul- tura, que optam pela grande distribuição como forma de escoamento dos seus produtos. Em consequência, a agricultura biológica foi-se afastando da sua matriz ecológica, dos seus valores e do seu potencial trans- formador.  Neste contexto, o desafio consiste emperceber como é que a AB pode crescer, incorporar novos atores e tecnologias e integrar o mercado global sem perder a sua coerência interna e sem se afastar demasiado dos seus princípios básicos (Saúde, Ecologia, Integri- dade e Precaução), ao mesmo tempo que garante preços justos aos consumidores, rendimentos ade- quados aos produtores e segurança alimentar às populações. Este desafio é especialmente relevante tendo em conta a meta de conversão de 25% da área agrícola da União Europeia (UE) para AB, até 2030, proposta pela Comis- são Europeia na Estratégia do Prado ao Prato e o seu ale- gado impacto na diminuição da produção agrícola e na segurança alimentar dos paí- ses europeus, em geral, e de Portugal, em particular. Para que este potencial impacto seja minimizado, será necessário, neste período, aumentar a produtividade e a rentabilidade dos sis- temas de produção em AB sem comprometer a qua- lidade ambiental, a biodiversidade e a saúde pública. A AB é frequentemente descrita como um modo … o crescimento da produção biológica, estimulado pelas novas exigências da sociedade civil, levou à sua integração no sistema alimentar global e àquilo que é costume designar-se por convencionalização. A AB é frequentemente descrita como um modo de produção com baixa produtividade, incapaz de assegurar a produção dos alimentos necessários a uma população mundial em crescimento ...[mas] é importante realçar que os aumentos espetaculares de produtividade da agricultura convencional resultaram em grande parte do financiamento público à investigação científica …

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