Cultivar_3_Alimentação sustentável e saudávell

13 Intensificação sustentável: um novo modelo tecnológico na agricultura JOSÉ LIMA SANTOS Professor Catedrático, Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa Alimentar um mundo de 9 a 10 mil milhões de pes- soas com padrões de consumo médios bastante mais exigentes do que os atuais é um desafio com que nos defrontaremos globalmente até 2050. Ven- cer este desafio implica garantir o acesso das pes- soas aos alimentos, objetivo que estamos longe de atingir atualmente e cons- titui, por isso mesmo, a tarefa mais urgente. Implica ainda reduzir o desperdício alimentar, do campo até ao prato, e aumentar conside- ravelmente a produção glo- bal de alimentos. Obter o necessário aumento de produção por sim- ples expansão da área de terras cultivadas teria cus- tos inaceitáveis em termos de desflorestação tropi- cal, perda de biodiversidade, destruição de serviços cruciais dos ecossistemas e emissões de CO 2 . Deste modo, qualquer solução aceitável passará sempre pela intensificação agrícola, ou seja pelo aumento da produção agrícola por hectare, nas terras já atualmente cultivadas, de modo a reduzir a pres- são para converter ecossistemas naturais em novas terras de cultivo. A intensificação agrícola do passado poupou muita terra para a natureza, para a conservação da bio- diversidade e para a manutenção e continuidade de processos ecológicos de que dependemos e a que hoje chamamos ‘serviços de ecossistemas’. De facto, sem a intensificação agrícola do passado, estaríamos hoje provavel- mente bem pior no que se refere quer a segurança ali- mentar quer a biodiversi- dade e serviços dos ecos- sistemas. No entanto, a intensificação agrícola do passado foi baseada no uso crescente de inputs industriais, tais como adubos químicos de síntese, pesticidas, ener- gia e água de rega, utilizados para transformar o meio agronómico e torná-lo mais favorável ao cres- cimento de meia dúzia de variedades de plantas geneticamente melhoradas para aumentar a pro- dutividade da terra, as quais requerem agroecos- sistemas mais artificializados do que as variedades tradicionais. Esta intensificação baseada em inputs industriais alcançou o desejado aumento da pro- dutividade da terra cultivada, mas à custa de um uso cada vez mais ineficiente destes inputs , de que Sem a intensificação agrícola do passado, estaríamos hoje provavelmente bem pior no que se refere quer a segurança alimentar quer a biodiversidade e serviços dos ecossistemas.

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