Cultivar_3_Alimentação sustentável e saudávell

cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 3 março 2016 92 1970, para 6,1 kg/pessoa/ano em 2006. Estas ten- dências refletem, por um lado, as mudanças nos hábitos alimentares, mas também o facto de a produção não conseguir acompanhar o aumento populacional em algumas regiões e países. EmPortugal, esta tendência tambémseverifica, sobre- tudo ao nível da produção, que tem vindo a decrescer sistematicamente. A produção corresponde hoje ape- nas a 0,04% do total da produção agrária para con- sumo humano, muito abaixo da média mundial. Na década de 80 produzia-se mais de 35 mil toneladas por ano, e hoje está em cerca de 2 mil toneladas. O consumo anual per capita, que chegou a estar perto dos 7 kg/pessoa/ano, situa-se hoje em 4,2Kgs, abaixo da média mundial, como já vimos. O desinvestimento na cultura de leguminosas fez com que elas estejam a perder competitividade e escala. Apenas as comunidades e países com tradi- ções vegetarianas (como a Índia e o Myanmar) ou em que a cultura esta bem instalada nos mercados e tradições (como Canadá, Brasil, China e Estados Unidos) têm mantido elevados os índices de pro- cura e diversidade. Entre as características mais importantes das legu- minosas secas, destacam-se as seguintes: (1) a sua riqueza em proteínas de origem vegetal que chega a 20-25% do seu peso, minerais (entre os quais o ferro, potássio, fósforo, zinco e magnésio), vitami- nas e ácidos gordos essenciais e fibras, que ajudam a equilibrar as dietas e melhorar a sua digestibili- dade; (2) sendo alimentos secos e granulados, são mais facilmente conservados e armazenados nas mais variadas condições climáticas, favorecendo a segurança alimentar e o comércio; (3) a sua capaci- dade de fixação de azoto e libertação de fósforo no solo dá-lhes um imenso potencial de utilização em diversos sistemas agrícolas, através da consorcia- ção e rotação em culturas alimentares ou forragei- ras, com impactos benéficos no meio ambiente; (4) a sua versatilidade e diversidade permitem produ- zir variedades mais resistentes às altas temperatu- ras e à seca, ajudando nos esforços para adaptação e mitigação no contexto das alterações climáticas. Tendo em conta que a grande maioria dos cerca de 800 milhões de pessoas que passam fome no mundo, são pequenos agricultores em regime familiar, a produção de leguminosas secas repre- senta uma oportunidade para resolver os proble- mas nutricionais dessas famílias, ao mesmo tempo que se promove a sua integração no mercado e o aumento dos seus rendimentos. Do ponto de vista nutricional, as leguminosas secas podem contribuir com uma diversificada gama de nutrientes, particularmente proteínas e minerais. Combinadas com os cereais resultam em dietas equilibradas, nutritivas e saudáveis. Poderão tam- bém desempenhar um papel fundamental no com- bate à obesidade e doenças crónicas (por exem- plo, diabetes e problemas cardiovasculares), muitas vezes associadas ao consumo excessivo de alimen- tos de origem animal. Existem variedades de leguminosas secas adapta- das à grande maioria dos regimes agroecológicos. Um trabalho de investigação, melhoramento e dis- seminação dessas variedades para populações vul- neráveis poderá ter um grande impacto nutricional e económico. A necessidade de promover uma agricultura mais sustentável poderá ainda contar com a utilização de leguminosas na restauração da fertilidade dos solos, permitindo a redução da utilização de fertili- zantes industriais, potencialmente contaminantes, e com elevada pegada de carbono. A recuperação de algumas variedades abandonadas por perda de competitividade no mercado, e o melhoramento, podem também ser um contributo para a biodiver- sidade e a diversificação das dietas. Assim, a decisão das Nações Unidas, tomada na 68ª Sessão da Assembleia Geral, de declarar 2016 como o Ano Internacional das Leguminosas, sob o

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