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Paisagens alimentares e a (re)invenção da

gastronomia em Portugal

FRANCISCO BENDRAO SARMENTO

Chefe do Escritório de Informação FAO em Portugal e junto da CPLP

Introdução

Portugal está na moda. A comida portuguesa tam-

bém.

Assim pensam alguns

chefs

portugueses que no seu

relativamente recente “Manifesto para o Futuro da

Cozinha Portuguesa” apresentam, logo à partida,

o que os distingue: “

Temos orgulho no nosso país,

na nossa tradição gastronómica e reconhecemos a

riqueza da identidade da cozinha portuguesa

!”

1

.

Mas o

Manifesto

é mais

amplo. Refere, por exem-

plo, que “

A nossa identidade

gastronómica é a nossa ori-

gem, o que nos funda como

cozinheiros(as) – é o reflexo

do nosso território mas também dos povos e cultu-

ras que a influenciam desde séculos aos dias de hoje,

contribuindo para a sua riqueza e diversidade”.

Ou

seja, os

chefs

identificam-se com uma gastronomia

territorializada – dela emergem e a ela prometem

lealdade.

1

Disponível em

http://sanguenaguelra.pt/manifesto/

[Nota

da equipa editorial: Ver também Secção III desta edição]

Esta lealdade remeter-nos-ia para uma discus-

são sobre a origem desta possível recomposição

identitária da gastronomia portuguesa, tema que

sendo vasto, não pretendemos aqui tratar com pro-

fundidade. Irei apenas mencionar algumas ques-

tões ligadas com a sua atual ligação aos territórios,

tendo em conta possíveis impactos desse “estar na

moda”. De facto, a valorização da gastronomia por-

tuguesa, ou das diversas gastronomias presentes

no nosso país, traz consigo ameaças e algumas

oportunidades. Importa compreender melhor este

contexto para, tal como

sugere o Manifesto,

“desa-

fiar todos os cozinheiros,

consumidores, produtores,

fornecedores, empresários

do sector, jornalistas, inves-

tigadores, críticos, artistas, pensadores, a assumi-

rem-se como agentes de mudança e de promoção

da cozinha portuguesa!”

É esse um dos objetivos deste artigo, que apa-

rece num momento em que se verifica uma apa-

rente conjugação de interesses entre forças globais

e locais na (re)valorização de identidades culinárias

visando a atração de turistas.

… a valorização da gastronomia

portuguesa, ou das diversas

gastronomias presentes no nosso

país, traz consigo ameaças e algumas

oportunidades.