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29 Vamos comer o que nos rodeia – e isso é só o início da mudança ALEXANDRA PRADO COELHO Jornalista do PÚBLICO Quando comecei a escrever sobre gastronomia, em 2011, tive a sorte de receber um convite da Food Organization of Denmark/The Food Project para ir a Copenhaga. Começava na altura a falar-se da “revolu- ção” que estava a acontecer na gastronomia nórdica e tive a oportunidade de observar diretamente o que se vivia no (e em torno do) Noma, que depois veio a ser considerado, durante alguns anos, o melhor restau- rante do mundo na classifica- ção feita pela revista britânica Restaurant . Fiz parte de um grupo de jornalistas convidados por aquela organização encarregue de mostrar o que se passava na gastronomia dinamarquesa, e do pro- grama da viagem fazia parte não apenas um jantar – inesquecível – no Noma mas uma série de outras atividades que nos ajudavam a perceber como é que era possível o mundo ter voltado a sua atenção para a gastronomia de um país que até então não tivera qualquer tradição gastronómica considerada rele- vante. A viagem revelou-se uma lição em vários sentidos. O primeiro foi, sem dúvida, a forma como os dinamar- queses estavam a trabalhar em articulação uns com os outros. O texto que escrevi no PÚBLICO quando regressei a Portugal refletia exatamente isso. Tinha como título “Os homens por trás do melhor restau- rante do mundo” e falava, obviamente, do chef , René Redzepi, mas também de Lars Williams, um inves- tigador que trabalhava num barco-laboratório em frente ao Noma, fazendo todo o tipo de experiências loucas à procura de novos sabores. E, por último, falava de Soren Wiuff, um agricultor que fazia espargos e outros produtos usados no Noma e que fomos visitar na sua propriedade. Foi muito interessante perceber como a estratégia de comunicação que veio a permitir afirmar a Dina- marca como um destino gastronómico passava por dar a mesma importância ao chef do restaurante e ao agricultor. Isso pareceu-me na altura determinante. Todo o discurso de René Redzepi, que hoje se vulga- rizou entre todos os grandes chefs do mundo, mas que na altura não era assim tão habitual, passava pela valorização dos produtos e dos agricultores que os trabalhavam. Sem eles, sublinhava Redzepi, o seu restaurante não seria nada. Foi muito interessante perceber como a estratégia de comunicação que veio a permitir afirmar a Dinamarca como um destino gastronómico passava por dar a mesma importância ao chef do restaurante e ao agricultor.

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