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A diferenciação no setor cerealífero aliada à

panificação artesanal

DIOGO AMORIM

Gleba – Moagem e Padaria

A agricultura de cereais em Portugal

É bem certo que Portugal não é umpaís competitivo

no que toca à produção de cereais panificáveis. O

presidente do Clube Português dos Cereais de Qua-

lidade, Fernando Carpinteiro Albino, aponta que

92% dos cereais que compõem o pão que consumi-

mos são, na verdade, importados [1]. Portanto, seja

este de Mafra, Alentejano ou de Rio Maior é, cer-

tamente, produzido a partir de cereais provenien-

tes de países estrangeiros.

As origens mais frequen-

tes são França, Alemanha

e Polónia, mas também há

muitos cereais vindos do

outro lado do oceano de

grandes potências cerealí-

feras, como os Estados Uni-

dos da América e o Canadá.

Existem algumas razões que justificam esta enorme

dependência externa. A principal, apontada pelo

Eng.º Benvindo Maçãs, diretor do INIAV de Elvas,

é que Portugal não consegue competir em quan-

tidade. O Alentejo, por exemplo, que é ainda hoje

a região onde mais trigo se produz, tem, regra

geral, solos pobres com baixos teores de maté-

ria orgânica e azoto. As primaveras são excessiva-

mente quentes, o que coloca a planta sob

stress

numa fase ainda muito precoce, levando a um mau

enchimento da espiga, acompanhado de baixos

teores em proteína. A quantidade e qualidade das

proteínas que compõem o trigo ditam a sua apti-

dão para a panificação moderna, sendo que, em

regime de sequeiro, há muitos anos em que estas

não atingem os parâmetros da indústria. Tanto no

Alentejo como em Trás-os-Montes, onde se culti-

vava trigo de sequeiro com alguma dimensão, bem

como centeio, houve um

grande

desinvestimento

nos cereais, para se passar

a apostar em olival, vinha

e pecuária. Noutras regiões

do país que teriam, even-

tualmente, melhores con-

dições para o cultivo de

trigo, não há explorações com dimensão que justi-

fique o seu cultivo ou opta-se por outros tipos de

cultura, como o milho.

Diferenciação no setor cerealífero

Parece-me muito óbvio pela análise que tenho

vindo a fazer, baseada nos testemunhos de agricul-

tores e agrónomos de referência, que Portugal não

tem condições para ser autossuficiente na produ-

… Portugal não é um país competitivo

no que toca à produção de cereais

panificáveis. … seja o pão de Mafra,

Alentejano ou de Rio Maior é, certamente,

produzido a partir de cereais provenientes

de países estrangeiros.