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As gastronomias locais traduzem um

conjunto de legados históricos que

identificam e distinguem os territórios

e a evolução das suas populações, por

isso são, atualmente, alvo de particular

interesse e entusiasmo, quer por parte

dos consumidores, quer por parte dos

agentes de desenvolvimento.

Gastronomia portuguesa: heranças antigas,

dinâmicas modernas

*

MARIA MANUEL VALAGÃO

Na sua íntima relação com

a paisagem, com a cultura

e com o território, as tra-

dições alimentares consti-

tuem-se, atualmente, como

um dos pilares que sus-

tentam toda uma série de

iniciativas de desenvolvi-

mento. Neste artigo, come-

çamos por situar o con-

texto da valorização das tradições alimentares e de

como este conceito evoluiu, dando lugar a um outro

mais abrangente – “as gastronomias locais” –, inse-

rindo-o, de seguida, na paisagem, no território e na

cultura que lhe são próprios.

As gastronomias locais traduzem um conjunto de

legados históricos que identificam e distinguem os

territórios e a evolução das

suas populações, por isso

são, atualmente, alvo de

particular interesse e entu-

siasmo, quer por parte dos

consumidores, quer por

parte dos agentes de desen-

volvimento. Entre estas gas-

tronomias, usufruem de

notoriedade especial as

que se situam nos territó-

rios mediterrânicos, onde

as austeras condições de

produção agrícola, forja-

ram práticas alimentares assentes na parcimónia

dos recursos. Trata‑se de uma herança de extrema

frugalidade alimentar, que explica a sua identidade

caracterizada pela escassez de alimentos de ori-

gem animal, integrando também as muitas memó-

rias da fome que estão na origem da tão caracterís-

tica mobilidade destes povos em busca de melhores

condições de vida. E são precisamente essas heran-

ças, essas memórias que

são alvo, nos nossos dias,

de diferentes olhares que

vão no sentido de enalte-

cer este tipo de práticas alimentares antigas e de

as reinterpretar à luz das novas tendências da cozi-

nha contemporânea e das gastronomias modernas.

Natureza, gastronomia e lazer, por via da tradição e

da inovação alimentar, formam assim uma trilogia

Natureza, gastronomia e lazer, por via da

tradição e da inovação alimentar, formam

assim uma trilogia indissociável.

* Texto baseado em Valagão, M. M. (org.) (2009),

Natureza,

Gastronomia & Lazer. Plantas silvestres alimentares e ervas

aromáticas condimentares

,

Lisboa,

Ed. Colibri e em Vala-

gão, M. M. (2011), “Dieta Mediterrânica, Património Ima-

terial da Humanidade”.

Revista da APH (Associação Portu-

guesa de Horticultura

), 105: 23-27, Lisboa.

Investigadora do IELT/FCSH, Universidade Nova de Lisboa